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Klaus Kaiser – #familiabrazinco

Hoje é dia de a gente conhecer mais sobre a vida de uma verdadeira lenda do surf gaúcho, catarinense e brasileiro.

Locutor em português da WSL, Klaus é voz por trás dos momentos emocionantes que passamos com os surfistas brasileiros no Tour.

Klaus é conhecido como uma verdadeira enciclopédia do esporte no Brasil e no mundo, principalmente quando o assunto é competição.

Nada melhor que ele mesmo para contar um pouco dessa história incrível no nosso blog.

Entrevista Klaus Kaiser

Klaus, fale um pouco como foi seu primeiro contato com o surf, e aonde pegou as primeiras ondas?

Klaus Kaiser: Meu primeiro contato com o surf foi em Balneário Camboriú. Isso era 1977. Eu vim do interior de Santa Catarina, lá do extremo oeste. Pinhalzinho, quase divisa com a Argentina. Minha mãe era professora e foi transferida para trabalhar em Balneário Camboriú.

Eu nuca tinha visto o mar, minha primeira reação foi sair correndo e dar um gole da água do mar, porque diziam que a água do mar era salgada. Dei um grande gole, e realmente era muito salgada.

Foi paixão, foi amor à primeira vista. Logo já vi um pessoal surfando, e falei, é aquilo que eu quero. Tive uma prancha de isopor, as famosas Guarujá. Leash era de fio de varal e parafina era vela.

Muitas vezes voltava para casa com o peito todo assado. Em 1979, eu ganhei minha primeira prancha de fibra. Um “Ilha de São Franscisco”. Foi minha primeira prancha de surf. Posteriormente troquei com um amigo meu por uma Fly monoquilha 6,8, ali que eu deslanchei no surf.

O Rio Grande do Sul tem boas ondas, que agora têm sido reveladas para o mundo todo com alguns atletas que estão indo treinar no Estado. Como você conta um pouco de sua participação na história do surf do RS, e qual o futuro profissional dos atletas do estado.

Klaus Kaiser: Eu comecei a pegar onda em Balneário Camboriú, Santa Catarina. Me criei no circuito catarinense. Em 1984, eu fui para o Rio Grande do Sul pela primeira vez para trabalhar no circuito Renner, um circuito muito famoso no Rio Grande do Sul.  Foi meu primeiro contato com o estado gaúcho.

Rio Grande do Sul tem muitas boas ondas, obviamente não tão constante como Santa Catarina.

Torres, nos molhes, Praia da Cal, Praia da Guarita, Prainha no centro, Passo de Torres, que é aquela onda que quebra no meio do rio. Ilha dos Lobos.

Também tem as plataformas de Tramandaí, Atlântida e Cidreira.  

Mais ao sul, tem a Praia do Cassino e os molhes de São José do Norte.

Tem muita onda boa no Rio Grande do Sul. Esse inverno especialmente foi um espetáculo de onda, um dos melhores invernos da história.

Eu trabalhei a primeira vez na Federação Gaúcha em 1991, quando eu vim morar em Porto Alegre. Trabalhei na gestão do Tuca Gianotti. Depois passei por vários outros presidentes.

Sempre foi um prazer trabalhar aqui no Rio Grande do Sul. Sempre teve muito bons surfistas.

O Rio Grande do Sul sofre de um grande problema que é a renovação de atletas, a renovação é muito pequena.

Hoje em dia, se você vai pegar onda em uma praia do RS, você vai ver 60% dos surfistas entre 45 e 65 anos. 30% entre 20 e 45 anos, e 10% de gurizada nova.

Então está faltando a renovação. E porque isso?

O litoral gaúcho é muito desafiador. Tem dia que você chega na beira da praia, naquele invernão pesado.

Uma criança de 11, 12, 13 anos com o pai.

Chuva, frio, vento, corrente absurda, redes e mar marrom. Desestimula.

Criança hoje tem muito mais opções para curtir.

Tem o skate, tem os jogos de PC, tem as mídias sociais. O surf já não é a primeira opção, e isso é uma coisa que preocupa. Como será essa renovação?

Você presenciou e foi protagonista da história de surf em Balneário Camboriú. Conte um pouco sobre essa época, e fale o que você acha da cidade hoje em dia como um dos maiores polos imobiliários do Brasil.

Klaus Kaiser: Balneário Camboriú para mim vai ser sempre especial, o meu lugar no surf. O lugar dos meus amigos e o lugar aonde peguei algumas das melhores ondas da minha vida. Aonde passei alguns dos melhores momentos da minha vida. Fiz parte da terceira ou quarta geração de surf da cidade.

O surf na cidade começou em 1972, com Carlos Santos, o “Havaiano”, primeiro surfista da de Balneário.

Depois veio uma geração com Luciano Fischer, David Husadel, Nego, os Irmãos Martins.

E eu sou da próxima geração junto com o Ícaro Cavalheiro, Pepe Bratti, André Oliveira, Keko e vários outros nomes.

A gente começou a surfar 79. Balneário Camboriú naquela época era quase virgem.

Para você ter ideia, a Estrada da Rainha, que liga Balneário Camboriú à Paria Brava, a gente abriu trilha no facão. Para inicialmente surfar na Praia do Coco. Que é uma prainha entre a Brava e BC. Depois abrimos outra trilha para surfar na Praia dos Amores, que é o canto direito da Praia Brava.

Isso foi em 1980. Em 1981 eu realizei meu primeiro campeonato de Balneário Camboriú para os amigos, e em 1982 fiz o primeiro campeonato para toda galera.

Depois começamos a competir nos campeonatos estaduais e nacionais. BC ganhava tudo, eu fiz parte de uma geração que me orgulho muito, geração de ouro de Balneário Camboriú.

BC hoje tem um problema parecido com o RS, não tem muita renovação. São bem poucos nomes que vem se destacando em termos de competição.

Não tem o mesmo número der surfistas jovens. Tem muita gente pegando onda, mas nomes jovens são poucos.

Balneário sempre foi um celeiro de talentos.

Balneário se tornou o apelido que recebeu justamente. A maravilha do Atlântico.

O mercado imobiliário explodiu, está todo mundo procurando.

É uma cidade maravilhosa de se morar, tem tudo. Principalmente a parte turística. Belíssimas praias. Balneário Camboriú foi, e será para sempre, a joia do meu coração.

Você trabalha com Campeonatos de surf desde a década de 1980. Fale um pouco como você chegou até a WSL.

Klaus Kaiser: Eu fiz meu primeiro campeonato em 81, o segundo em 82. Em 83 a gente começou a competir o circuito catarinense.

Em 84, já comecei a trabalhar em eventos de surf. Meu primeiro evento foi na Praia da Joaquina, na primeira etapa do circuito catarinense de 84.

Sempre fui aquele competidor que estava em cima do palanque. Como é, como faz, deixa eu ver. Fui apadrinhado, era sempre o mascote do pessoal.

Em 84, num domingo de manhã, eu perdi a bateria. Aí me chamaram no palanque que o beach marshall tinha faltado., eu teria que entregar as camisetas.

Uma hora depois o Beach Marshall chegou, aí o somador teve que sair.

Roberto Perdigão perguntou, quer aprender a somar nota. Eu falei que sim.

Aí comecei a somar nota e trabalhar em todas etapas do circuito catarinense.

Em 85 fui chamado para trabalhar no primeiro Op Pro.

Em 86 eu ainda competia, mas começou uma incompatibilidade entre competir e trabalhar lá.

Aí decidir encerrar minha carreira de competição e trabalhar como somador, aí depois fazer bateria, tour manager e fazer locução.

Minha primeira locução eu fiz em 1987, em Ubatuba, no Sundeck Classic.

No dia o locutor não apareceu, e novamente meti a cara. Eu faço, disse na época.

Aí comecei minha trajetória na locução. Trabalhei no Hang Loose de 86 na Joaquina, aí comecei a trabalhar em todas etapas da ASP no Brasil. Aí 92 começou ASP South America, entrei como tour manager e locutor. Sempre trabalhando paralelamente com a ABRASP.

Desde 2009 eu faço a locução de Web Cast, até os dias de hoje.

O que o Klaus mais gosta de fazer hoje em dia nas horas vagas?

Klaus Kaiser: Hoje em dia, devido a pandemia, e morando a 200 quilómetros da praia, nas horas vagas eu sempre estou com meus filhos, e também gosto muito de assistir futebol.

Eu moro em São Sebastião do Caí, no Rio Grande do Sul. Na verdade, moro nos Estados Unidos, mas como não consegui voltar devido a pandemia, moro aqui junto com minha esposa e meu filho mais novo.

A gente criou um grupo “Brincando pelo Caí”, o objetivo é tirar as crianças de dentro de casa para brincarem, brincadeiras de criança.

Jogar bola, taco, basquete, nadar em rios e lagoas, jogar bolinha de gude, andar de bicicleta.

Brincar ao ar livre.

Eu me divido hoje em cuidar da família e estar com a família. Faço bastante caminhadas e trilhas.

Essa é minha vida, tranquila e calma, sempre na paz.

Até quando você planeja narrar as etapas do WCT, e quais seus planos para o futuro?

Klaus Kaiser: Olha, enquanto Deus me der saúde e quiserem meu trabalho, eu vou em frente.  Nunca escondi que meu maior ídolo na locução é o Galvão Bueno. Ele é completo: narra tudo que é esporte. Impressionante a qualidade do Galvão, ele narra todos esportes com conhecimento de causa e traz emoção.

Tem setenta anos e segue narrando com maestria, ele é um cara que eu me espelho.

Se eu tiver 70 anos e continuar trazendo emoção, vou estar aí. Obviamente, sempre me renovando.

Minha vida está ligada definitivamente com a locução. Vamos ver quanto tempo Deus vai me dar para eu aproveitar essa dádiva de ser locutor de surf e outros esportes e eventos.

Você que viveu os dois mundos, é mais fácil ficar na organização ou de lycra dentro d´água?

Klaus Kaiser: Não é questão de mais fácil. É questão aonde você se sente bem. Eu me sentia bem competindo, mas depois que comecei a trabalhar, vi que era aquilo que eu queria para minha vida.

Quando finalizei o terceirão, minha mãe perguntou: Qual faculdade você quer fazer?

Quero fazer a faculdade da vida, trabalhar com surf. Isso era 1986, naquela época surf era esporta de vagabundo e maconheiro, totalmente sem crédito. Mas era aquilo que eu queria.

Minha mãe, Dona Marlei, a quem eu devo muito, falou: É isso que tu quer, então eu vou te apoiar.

Eu fui morar no Rio em 1987, minha mãe não tinha condições, aí ela fez dois pães de forma para me ajudar a ir. Consegui comprar minha passagem e fui para o Rio sem um centavo no bolso, apenas uma ficha de telefone e um número de um amigo de Niterói.

Liguei pra ele, ele atendeu e falou: legal, vem pra cá, pega um ônibus e vem pra cá. Respondi, não tenho um centavo, você vai ter que vir me buscar.

Ele saiu de Niterói e foi até o Rio me buscar. O nome dele é Hélio Spinto, devo muito a ele também.

Um mês depois eu já estava morando na Barra da Tijuca com Nelson Ferreira e Felipe Dantas.  Up desgraçado, cheguei no Rio só com uma ficha. Se tivesse ligado para um número errado, ou o cara não tivesse atendido, o que teria acontecido?

Mas quando o universo conspira a favor, tudo dá certo.

São os dois mundos, e para mim hoje é muito mais fácil ficar na organização, e eu acho que estou no caminho certo.

Eu quero agradecer muito ao Brazinco por acreditar no meu trabalho. Começamos a parceria em 2018, trabalhamos 2018 e 2019, 2020 tudo parado devido a pandemia. Mas se tudo der certo, 2021 retomamos com tudo.

Fiquem ligados no nosso Blog que logo tem mais coisa da #familiabrazinco.